Demorou, mas aí está a estreia do segundo estagiário do Dragão Banguela. Aquela galerinha que fica escrevendo post, enquanto eu tô tomando a minha cerveja e coçando o saco...
...
“Humanidade também é uma a expressão que sintetiza as características partilhadas por
todos os humanos, com especial ênfase na capacidade do Homem como ser compreensivo e
benevolente”.
Resolvi aproveitar e escrever essa matéria enquanto o episódio 11 da segunda temporada de The Walking Dead estava fresquinho nessa minha mente de intelecto nível 12, assim como a estréia nos cinemas de Poder sem Limites (você não sabe de que raios estou falando? Uma olhadinha no wikipédia resolve seu problema) . Antes que algum receoso pergunte, não há SPOILERS nesse post. Acontecimentos recentes na minha mesa de jogo também me levaram a tratar sobre esse assunto: Humanidade.
O episódio de The Walking Dead centrou-se no dilema de alguns sobreviventes de um
apocalipse Zumbi tendo que decidir sobre a vida de um outro sobrevivente, pois deixá-lo vivo poderia comprometer a segurança do grupo, matá-lo estariam comprometendo sua própria humanidade (sim, eu adorei o discurso de Dale). Até que ponto eu chegaria para manter-me vivo? Em poder sem limites vemos garotos descobrindo os limites de seus poderes e fazendo uso deles ao seu bel prazer invertendo aquela frase tão famosa do nosso herói aracnídeo: “com grades poderes vem grandes responsabilidades”.
Nos dois casos acima a questão da humanidade vem à tona. Mas seu Gárgula? O que raios isso tem a ver com RPG?
O advogado do diabo (digo, do Orc) ...
Imagine um acontecimento como esse que descrevo abaixo (veteranos que jogaram o antigo Dragonquest – caixa para iniciantes da antiga TSR, que bateu as botas para os
desmemorizados – talvez percebam um tom familiar):
Após caminharem por uma longa masmorra perseguindo a rota para recuperar uma espada
mágica que salvará a aldeia dos aventureiros do ataque iminente de um dragão vermelho, o grupo depara-se em calabouço com um Orc, ferido e acorrentado a uma parede. Um único Orc.
Não se tratava de um obstáculo, o grupo poderia simplesmente ignorar a cena e seguir em frente. Pelo contrário o grupo perderia tempo, o orc não tinha nenhuma informação para dar no momento, estava quase moribundo. Carregá-lo só iria aumentar a carga do grupo (entenda-se por diminuir as moedas de ouro do grupo). Matá-lo não forneceria XP, pois nem perigo o Orc oferecia aos personagens.
Fico me perguntando a razão para aquele encontro ter sido incluído naquela masmorra. Assistir ao episódio de The Walking Dead e Poder sem limites me fizeram lembrar do orc indefeso e prisioneiro das minhas primeiras aventuras de Dragonquest (e olha que faz tempo!) Deixando de drama, fica óbvio que o encontro foi feito sob medida para que o grupo interagisse entre si e pudessem decidir pela vida do orc e assim medir de certo modo, o nível de humanidade do grupo (tem HUMANIDADE em D&D? Não é coisa de Mundo das Trevas? Pelo menos não medida em bolinhas pretas na ficha de personagem).
Estabelecer um conflito entre o grupo? Talvez. Acho que o que mais me marcou mestrando essa aventura, foi ver os personagens e jogadores debatendo entre si sobre os prós e contras de libertá-lo e sobre deixá-lo ou não vivo.
Gostaria muito de saber como outras mesas lidaram com encontros semelhantes (comentários abaixo, por favor!). Penso se uma cena como essa não seria a ocasião perfeita para fazer uso daquela tendência que às vezes até o jogador se esquece de anotar na ficha. Às vezes os personagens dos jogadores fazem tanto uso da espada que seria até fácil demais contornar essa situação sem um diálogo. Os jogadores da minha mesa pararam nesse momento e adivinhem? A vida do orc foi decidida numa votação, rendendo um ótimo role play.
A partir dessa informação, fica evidente o trato do grupo de aventureiros. Um Orc só é um “filho de deus”, quando não foram os próprios Personagens jogadores que o deixaram naquela condição. Em outra ocasião o meu grupo assassinou toda uma vila de goblinoides deixando apenas fêmeas e filhotes para contar a história. Nessas horas a reflexão sobre a importância do viva e deixe viver quando os jogadores veem uma aglomerado de inimigos fraquinhos (leia-se XP fácil para melhor entendimento do que quero dizer).
Penso que ainda que a necessidade da aventura obrigue os jogadores a seguir com essa matança desenfreada, não o deveriam fazê-lo sem pelo menos refletir no quão cruel é esse tipo de atitude. Como diria Rick Grimes “Nós estamos fazendo isso. Mas não somos obrigados a gostar do que estamos fazendo, é o que nos diferenciam dos caras maus. É o que ainda nos torna humanos”.
Penso que se uma mesa de RPG se resume ao matar pilhar e destruir, talvez o mesmo grupo se divirta tanto jogando apenas WAR ou outros jogos de estratégias.
Gárgula! Você é um defensor dos direitos dos monstros-não-aventureiros?
Mas se a diversão do jogo baseia-se principalmente pela ação que os combates proporcionam! Então vem minha resposta: Não, sou advogado dos bichos papões, mesmo porque acho muito divertido bater em Orcs e tenho os guerreiros como uma das minhas classes favoritas de D&D e me divirto tanto quando a ação chega quanto qualquer empilhador de cadáveres. Mas não mataria qualquer NPC que seja sem que haja um bom motivo para isso.
A primeira avaliação de um grupo de nível alto em relação a um grupo de forasteiros humanoides monstruosos ou não que eles se deparem quase sempre se vale dos XPs que os inimigos concederão aos PJs e da vantagem numérica ou confiança nas habilidades que o grupo tem em relação aos “supostos inimigos”.
Sobre esse último aspecto eu desafio um grupo que não tenha esse habito, quero que um Tarrasque devore o Oráculo se isso não for verdade.
Oráculo? Você ainda está ai?
Moral da estória, pessoal. Joguem, matem os monstros que derem na telha, pois é muito
divertido. Mas não percam a oportunidade de um bom Role Play quando um dilema sobre
quem merece ou não viver surgir diante dos vossos olhos ávidos por XP. Vocês podem ignorar completamente estas minhas colocações (tem alguém nesse blog que lê todas as matérias até o último ponto final? Eureca!)
Fonte: Dragão Banguela
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